domingo, 22 de fevereiro de 2015


A psicopedagogia e suas contribuições.


A psicopedagogia para muitos tornou-se sinônimo de outras áreas profissionais, como a Psicologia Educacional e Psicologia Escolar, por serem campos que se inter-relacionam. Porém, apesar de ter um corpo teórico no Brasil de mais de 30 anos, ainda há uma confusão sobre sua definição e seu objeto de estudo.
Os primeiros centros psicopedagógicos foram fundados na Europa, por J. Boutonier e George Mauco com direção médica e pedagógica em 1946. As ideias europeias influenciaram a ação psicopedagógica da Argentina, que também influenciou a prática brasileira, devido à proximidade geográfica e na língua.
Em 1970, a Psicopedagogia foi introduzida no Brasil, baseadas nos modelos médicos de atuação e foi com a concepção de problemas de aprendizagem que iniciaram o trabalho. 

Devido à preocupação de vários profissionais, criou-se a ABPp (Associação Brasileira de Psicopedagogia), que através de grupos de estudos, puderam expandir cada vez mais a Psicopedagogia no Brasil, ganhando a partir dos anos 80, âmbito nacional; concentram-se, principalmente nas regiões Sul e Sudeste, os cursos sobre Psicopedagogia.

CHAMAT, 2004, p.17 diz que a própria história da Psicopedagogia que surge na França diante do caos social pós-guerra. Os educadores preocupados com o grande número de alunos com dificuldades de aprendizagem inseriram uma área intermediária entre a Psicologia e
a Pedagogia que foi denominada Psicopedagogia.

Para valorizar o profissional da psicopedagogia, foi criado em 95/96 e reformulado na gestão 2011/2013, o Código de Ética do Psicopedagogo, com o propósito de orientar quanto aos princípios, valores e normas e também reestabelecendo diretrizes para uma boa conduta perante o profissional e respaldando o mesmo quanto a seus direitos.

Segundo Bossa (2000), a Psicopedagogia é uma área interdisciplinar, que para se delimitar necessita de outras áreas como Psicanálise, Pedagogia, Filosofia, Sociologia e outras áreas afins. Concordando que, seu objeto de estudo é a aprendizagem humana, e por consequência a dificuldade de aprendizagem. E para que possamos entender sobre o que acarreta essas dificuldades, não podemos nos ater apenas a um elemento, uma única causa, mas globalmente, por isso, a relevância de outras áreas como ferramentas de auxílio.

O psicopedagogo é o profissional que vem com a necessidade de transformar, ou melhor, busca sair do senso comum, valorizando e agregando novas formas de conhecimentos. Eles podem ser Pedagogos, Psicólogos, Fonoaudiólogo, Letras e outros, buscando maneiras eficientes para auxiliar possíveis dificuldades de aprendizagem no campo escolar, empresarial, ou seja, vários sistemas institucionais. Ele trabalha de duas maneiras:

·                        Preventiva- identificando possíveis dificuldades no processo com orientações metodológicas e assistencial, elaborando planos e/ou projetos de acordo com as políticas educacionais.
Para que possamos dimensionais as várias possibilidades desse campo profissional, torna-se relevante a funcionalidade e quais as habilidades que devem ser desenvolvidas por esse profissional nos seguintes segmentos: psicopedagogia escolar, clínica, hospitalar e empresarial.

·                        No âmbito escolar, o psicopedagogo pode contribuir com orientações a diretores, coordenadores, educadores e auxiliares, na prevenção e no estudo de como vem sendo administrado esse conhecimento dentro da escola por esses profissionais. 
·                        No âmbito clínico, o psicopedagogo irá lidar individualmente com o sujeito, avaliando globalmente, utilizando várias técnicas. Cada profissional irá utilizar as técnicas que melhor convir a ele, existindo vários teóricos que podem fundamentar essa prática no consultório.

Devemos também nos ater que, cada sujeito é único, e não existe um manual que deve ser seguido com todas as pessoas que são atendidas. Assim, esse profissional que estará operando na clínica, através desses fundamentos, poderá formar um diagnóstico preciso e assim intervir com sucesso na melhora desse sujeito, que pode ser desde crianças até idosos.
·                        No âmbito hospitalar, o psicopedagogo irá atuar para amenizar o sofrimento do paciente e/ou familiares que estão passando por esse momento. Pode ser internações de períodos curtos, longos ou em estado terminal. Esse profissional irá realizar dinâmicas para desenvolver o cognitivo através de atividades lúdicas.

·                        No âmbito empresarial, esse profissional irá atuar de forma individual com o funcionário, junto com o psicólogo e o profissional dos Recursos humanos, em recrutamentos e aperfeiçoamentos profissionais.

MENDES, 2006 diz que: “Observamos no campo da Psicopedagogia os profissionais buscando uma formação que os instrumentalize a lidar com problemas de aprendizagens; a subjetividades provocando uma transformação em um profissional diferente daquele que iniciou este processo, para responder a uma necessidade de uma realidade objetiva”.


Como podemos perceber esse profissional tem uma gama de possibilidades de atuação. Portanto, esse profissional tem que buscar uma nova maneira de reorganizar o conhecimento desse indivíduo independente da área educacional, que diretamente estarão atrelados a eles, já que o conhecimento escolarizado convencional não deu conta e que nunca é tarde para aprender. 


        A psicopedagogia diante do Fracasso Escolar.



A proposta é de como seria a atuação do psicopedagogo diante do fracasso escolar. Segundo Fernández (1990) o fracasso escolar responde a duas ordens de causas que se encontram imbicadas na história do sujeito próprios da estrutura familiar e individual daquele que fracassa em aprender e próprios do sistema escolar, sendo estes últimos determinantes. E que é preciso não confundir os fracassos escolares com problemas de aprendizagem para poder intervir antes que sejam produzidos, pois, muitas vezes, um pode derivar do outro. Bossa (2007, p. 21-22) traz a seguinte contribuição: objeto de estudo da Psicopedagogia deve ser entendido a partir de dois enfoques: preventivo e terapêutico. O enfoque preventivo considera o objeto de estudo da Psicopedagogia o ser humano em desenvolvimento, enquanto educável. Seu objeto de estudo é a pessoa a ser educada, seus processos de desenvolvimento e as alterações de tais processos. Focaliza as possibilidades do aprender, num sentido amplo.

       Não deve se restringir a um só dispositivo como a escola, mas ir também à família e à comunidade. Poderá esclarecer, de forma mais ou menos sistemática, o educador, pais e administradores sobre as características das diferentes etapas do desenvolvimento, sobre o progresso nos processos de aprendizagem, sobre as condições psicodinâmicas da aprendizagem, sobre as condições determinantes de dificuldades de aprendizagem.  O enfoque terapêutico considera o objeto de estudo da psicopedagogia a identificação, análise, elaboração de uma metodologia de diagnóstico e tratamento das dificuldades de aprendizagem.

       Como diagnóstico, um fracasso escolar pode diferenciar-se de um problema de aprendizagem, analisando a modalidade de aprendizagem do aprendente em sua relação com a modalidade ensinante da instituição escolar. Nas situações de fracasso escolar, a modalidade de aprendizagem do sujeito não se torna patológica; quando se constitui um problema de aprendizagem (inibição cognitiva ou sintoma), a modalidade de aprendizagem altera-se.

       Para prevenir o fracasso escolar, é necessário trabalhar em e com a instituição escolar, realizar um trabalho para que o educador possa conectar-se com sua própria autoria e, portanto, seu aluno possa aprender com prazer, denunciar a violência encoberta e aberta instalada no sistema educativo. Mas uma vez gerado o fracasso e conforme o tempo de sua permanência, o psicopedagogo também deverá intervir para que o fracasso do aprendente, encontrando um terreno fértil na criança e em sua família, não se constitua em um sintoma neurótico. (Fernandez, 1990 p. 64).
        É importante e necessário que se permita estar em conexão com variadas relações no intuito de entender as possibilidades de abordagem do trabalho psicopedagógico. A contribuição acima vem reforçar, também, a ideia da prevenção na psicopedagogia e mostra como esta deve estar interligada com os olhares da psicologia, pedagogia, fonoaudiologia, sociologia, antropologia, enfim, possibilitando uma conexão contínua com o objetivo de entender o paciente na sua complexidade e ao mesmo tempo na sua singularidade.

         São várias as definições de psicopedagogia ou tentativas organizadas de se conceituá-la e essas definições foram sendo construídas também ao longo de um processo histórico. Bossa (2007) reitera esse caminho que passou pela concepção de não aprendizagem, com o foco na falta, posteriormente esse olhar sobre a não aprendizagem passa a ser identificada como cheio de significados e passa a levar em conta a singularidade do sujeito, buscando esmiuçar características de acordo com a sua relação direta com o meio sociocultural em que está inserido.
      Segundo Bossa (2007, p. 24) reitera esta constatação afirmando que: Atualmente, a Psicopedagogia trabalha com uma concepção de aprendizagem segundo a qual participa desse processo um equipamento biológico com disposições afetivas e intelectuais que interferem na forma da relação do sujeito com o meio, sendo que essas disposições influenciam são influenciadas pelas condições socioculturais do sujeito e do seu meio.  O que Bossa traz é o exercício da visão relacional sobre o sujeito que manifesta suas inquietações no espaço de aprendizagem. E é nesse ponto que se acredita na possibilidade de encontrar um caminho para a estruturação de um trabalho preventivo na sala de aula.

 O psicopedagogo atuaria em conjunto com o educador no sentido de estar fornecendo subsídios e elementos estruturais (teórico-prático) para que essa visão abrangente pudesse ser internalizada por aquele que ali, naquele espaço, exerce a condição de mediador do conhecimento.


       O percurso feito minimamente até aqui nos mostra o quanto o momento atual sinaliza para que todos, profissionais que lidam diretamente com sujeitos, estejam atentos a tudo que está ao redor, que seria o contexto que ele, o sujeito está inserido. Isso é o que deve se buscar sempre. Através da reflexão constante, da auto avaliação, da busca por informações, por suporte teórico que possibilite um maior embasamento, segurança no agir, liberdade no mediar e felicidade e realização em poder contribuir de alguma forma em todo o processo.