O Papel da escola frente às “Dificuldades de Aprendizagem”
das crianças.
As crianças com dificuldades de aprendizagem
não são seres incapazes, apenas apresentam alguma dificuldade para aprender,
para se desenvolver intelectualmente.
São crianças que tem um nível de
inteligência bom, não apresentam problemas de visão ou audição, são
emocionalmente bem organizadas. Porém, fracassam na hora do aprendizado escolar.
As crianças com dificuldades de aprendizagem não são deficientes,
não são incapazes e, ao mesmo tempo, demonstram dificuldades para aprender.
Incapacidades de aprendizagem não devem ser confundidas com dificuldades de
aprendizagem.
As
dificuldades de aprendizagem referem-se não a um único distúrbio, mas a uma
ampla gama de problemas que podem afetar qualquer área do desempenho acadêmico.
As dificuldades são definidas como problemas que interferem no domínio de
habilidades escolares básicas, e elas só podem ser formalmente identificadas
até que uma criança/adolescente comece a terem problemas na escola. As crianças com dificuldades de aprendizagem são crianças/adolescentes suficientemente
inteligentes, mas enfrentam muitos obstáculos no âmbito escolar. São curiosos e
querem aprender. Mas, suas inquietações e incapacidades de prestar atenção
tornam difícil explicar qualquer coisa a eles. Essas crianças/adolescentes têm
boas intenções, no que se refere a deveres e atividades de casa, mas, no meio
do trabalho esquecem as instruções ou os objetivos, são incapazes de seguirem
orientações.
A desmoralização e baixa autoestima na maioria das vezes estão
associadas às dificuldades de aprendizagem. As crianças com
dificuldades de aprendizagem muitas vezes são rotuladas, sendo chamadas de
“perturbadas”, incapazes “ou” retardadas”, “burros”, só servem para “atrapalhar”
a aula, “insuportáveis”, dentre outras rotulações tanto por parte dos
educadores como dos coleguinhas e até mesmo pelos pais.
Vygotsky (1989) afirma que o auxílio prestado à criança
em suas atividades de aprendizagem é válido, pois, aquilo que a criança/adolescentes
fazem hoje com o auxílio de um adulto ou de outra criança maior, amanhã estarão
realizando sozinhas. Desta forma, o autor enfatiza o valor da interação e das
relações sociais no processo de aprendizagem.
Segundo Fonseca (1995), a aprendizagem é uma função do
cérebro. A aprendizagem satisfatória se dá quando determinadas condições de
integridade estão presentes, tais como:
- Funções do sistema nervoso periférico;
- Funções do sistema nervoso central, sendo
que os fatores psicológicos também são essenciais.
Vários estudos têm assegurado que os dois hemisférios do
cérebro trabalham em conjunto. Ainda de acordo com o autor, o hemisfério
esquerdo é responsável pelas funções de análise, organização, seriação, atenção
auditiva, fluência verbal, regulação dos comportamentos pela fala, apraxias,
raciocínio verbal, vocabulário, cálculo, leitura e escrita. É o hemisfério
dominante da linguagem e das funções psicolinguísticas. O hemisfério direito é
responsável pelas funções de síntese, organização, processo emocional, atenção
visual, memória visual de objetos e figuras. O hemisfério direito processa os
conteúdos não verbais, como as experiências, as atividades de vida diária, a
imagem as orientações espaço-temporais e as atividades interpessoais.
O autor refere que para que uma criança aprenda é
necessário que se respeitem várias integridades, como o desenvolvimento
perceptivo-motor, perceptivo e cognitivo, e a maturação neurobiológica, além de
inúmeros aspectos psicossociais, como:
- Oportunidades de experiências;
- Exploração de objetos e brinquedos;
- Assistência médica;
- Nível cultural, dentre outros aspectos.
Os fatores relacionados ao sucesso e ao fracasso
acadêmico se dividem em três variáveis interligadas, denominadas de:
- Ambiental engloba fatores relativos ao nível
socioeconômico e suas relações com ocupação dos pais, número de filhos,
escolaridade dos pais. Esse contexto é o mais amplo em que vive o indivíduo.
- Psicológica refere-se aos fatores envolvidos
na organização familiar, ordem de nascimento dos filhos, nível de expectativa e
as relações desses fatores são respostas como ansiedade, agressão, autoestima,
atitudes de desatenção, isolamento, não concentração.
- Metodológica engloba o que é ensinado nas
escolas e sua relação com valores como pertinência e significado, com o fator
professor e com o processo de avaliação em suas várias acepções e modalidades.
Ressaltamos
que em consequência do fracasso escolar, devido à inadequação para a
aprendizagem, a criança/adolescente é envolvida por sentimentos de
inferioridade, frustração, e perturbação emocional, o que torna sua autoimagem
anulada, principalmente se este sentimento já fora instalado no seu ambiente de
origem. Se o clima dominante no lar é de tensões e preocupações constantes, provavelmente
a criança se tornará uma criança tensa, com tendência a aumentar a proporção
dos pequenos fracassos e preceitos próprios da contingência da vida humana. Se
o clima é autoritário, onde os pais estão sempre certos e as crianças sempre
erradas, a criança pode se tornar acovardada e submissa com educador, e
dominadora, hostil com crianças mais jovens que ela, ou pode revoltar-se contra
qualquer tipo de autoridade. Se o clima emocional do lar é acolhedor e permite
a livre expressão emocional da criança, ela tenderá a reagir com seus
sentimentos, positivos ou negativos, livremente.
O ambiente doméstico exerce um importante papel para
determinar se qualquer criança aprende bem ou mal. As crianças que recebem um
incentivo carinhoso durante toda a vida tendem a ter atitudes positivas, tanto
sobre a aprendizagem quanto sobre si mesmas. Essas crianças buscam e encontram
modos de contornar as dificuldades, mesmo quando são bastante graves.
O estresse emocional também compromete a capacidade das
crianças para aprender. A ansiedade em relação a dinheiro ou mudanças de
residência, a discórdia familiar ou doença pode não apenas ser prejudicial em
si mesma, mas com o tempo pode ocorrer à disposição de uma criança para
confiar, assumir riscos e ser receptiva a novas situações que são importantes
para o sucesso na escola. Quando o fracasso escolar se instala, profissionais
como:
-
Psicopedagogos;
-
Fonoaudiólogos;
- Psicólogos;
- Pedagogos.
Devem e tem que intervir, ajudando através de
indicações adequadas.
José
e Coelho (2002) colocam que as crianças não conseguem acompanhar o currículo
estabelecido pela escola e, porque fracassam, são classificados como retardados
mentais, emocionalmente perturbados ou simplesmente rotulados como alunos
fracos e multirrepetentes.
Afirmo que o ambiente de origem da criança é altamente
responsável pelas suas atividades de segurança no desempenho de suas atividades
e na aquisição de experiências bem sucedidas, o que faz a criança obter
conceito positivo sobre si mesmo, fator importante para a aprendizagem.
É possível ver a família como um sistema de organização,
de comunicação e de estabilidade. Esse sistema, a família, pode desordenar a
aprendizagem infantil, o mesmo que podem fazer os fatores sociais tais como a
raça e o gênero na escola.
As dificuldades de aprendizagem devem ser diagnosticadas
de forma diferente em relação a outros transtornos próximos, ainda que, frente à
presença em uma pessoa de uma dificuldade de aprendizagem e de outro
transtorno, seja necessário classificar ambos os transtornos, sabendo que se
trata de dois transtornos diferentes. A rigidez na sala de aula para as crianças
com dificuldades de aprendizagem, é fatal. Para progredirem, tais estudantes
devem ser encorajados a trabalhar ao seu próprio modo. Se forem colocados com
um educador inflexível sobre atividades e avaliações, ou que usa materiais e
métodos inapropriados às suas necessidades, eles serão reprovados com certeza.
As
dificuldades de aprendizagem aparecem quando a prática pedagógica diverge das
necessidades dos alunos. Neste aspecto, sendo a aprendizagem significativa para
o aluno, este tornara-se menos rígido,
mais flexível, menos bloqueado, isto é, perceberá mais seus sentimentos,
interesses, limitações e necessidades. As dificuldades de aprendizagem aumentam
na presença de escolas superlotadas e mal equipadas, carentes de materiais
didáticos inovadores, além de frequentemente contarem com muitos educadores
“derrotados” e “desmotivados”. A escola não pode continuar a ser uma fábrica de
insucessos. Na escola, a criança deve se sentir amada, pois só assim se poderá
considerar útil.
É
importante o estabelecimento de uma “rotina” na escola. A “rotina” deve ser
desenvolvida para possibilitar, a partir da organização externa, a segurança
emocional e a organização interna de cada criança. Desse modo, a “rotina” favorece
e complementa o processo de socialização por meio da aprendizagem das regras de
convívio em grupo, da formação de vínculos e da aquisição de conhecimentos em
todos os âmbitos de desenvolvimento. É através da “rotina” da escola que são
identificadas algumas das queixas comuns na primeira infância, as quais em
geral são erroneamente confundidas, por desconhecimento,
com diagnósticos como:
- Agressividade;
- Hiperatividade;
-Desatenção.
Esses diagnósticos, quando analisados com o
devido cuidado por meio de entrevista com os pais ou responsáveis pela criança,
podem revelar dados importantíssimos e que demandam orientações de um
profissional adequado.
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