O que eu ouço muito das mães é que os filhos não param
quietos nem para comer. Desde a hora em que se levanta até a hora em que vai
dormir, anda de um lado para o outro, pula, sobe nos móveis, derruba as
cadeiras que encontra pelo caminho, corre pela casa. Seu quarto é um verdadeiro caos. Espalha roupas e objetos, mesmo aqueles que
não estão usando no momento, revira as gavetas, não fecha as portas dos
armários.
No colégio, então, é um terror. Sua agitação
incomoda os colega, professores e prejudicam os relacionamentos. A desatenção e
a inquietude interferem também no rendimento escolar. Não termina as lições,
comete erros grosseiros nos exercícios e redações, esquece
conteúdos que dominava satisfatoriamente um dia antes, rasga a folha da prova
de tantas vezes que apaga as respostas.
Geralmente, essas queixas caracterizam os
portadores do Transtorno de Téficit de Atenção
e Hiperatividade (TDAH), uma doença que acomete as crianças, mas que pode
prosseguir pela a vida adulta, comprometendo o desempenho profissional, familiar e afetivo dessas pessoas.
Em geral, as crianças são travessas, peraltas e
desatentas. Como se estabelece o limite entre a desatenção e inquietude própria
da idade e o comportamento potencialmente patológico?
À medida que a criança vai crescendo, aumenta
o nível de exigência sobre ela. No entanto, o típico é o Transtorno de Téficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) ficar
evidente quando ela vai para a escola. Normalmente, a criança consegue ficar sentada
na carteira da sala de aula, prestar atenção no que a professora fala, tomar
nota, faz o exercícios e aprende as lições. A criança hiperativa, no entanto,
com déficit de atenção não para quieta e comete erros
por distração. Muitas vezes, fica evidente que ela sabe a matéria, mas não
acerta as repostas porque está distraída.
Existem casos mais leves da doença que eventualmente podem ser contornados apenas com medidas
pedagógicas e há os mais graves que exigem tratamento medicamentoso.
Para fazer o diagnóstico de
déficit de atenção e hiperatividade, os sintomas precisam manifestar-se em dois
ambientes distintos. Em geral, eles ocorrem em casa e na escola. A mãe, que
geralmente acompanha a criança nos deveres de casa, percebe a agitação e a demora
em realizar as tarefas. A professora
nota o mesmo comportamento na escola. Por isso, pais e professores são bons
informantes para ajudar o médico que observa a criança no consultório.
A criança hiperativa já nasce com a doença, tanto que para fazer o diagnóstico em outras fases da vida é preciso
investigar como foi a evolução da enfermidade na infância.
O TDAH jamais se inicia quando o indivíduo é
adulto. Ao contrário. Em geral, evolui com melhora dos sintomas, tanto que até
alguns anos atrás acreditava-se que desaparecia com o
crescimento. Hoje se sabe que, apesar de diminuírem o número e a intensidade
dos sintomas nos adolescentes e adultos, parte das crianças continua com o
problema por toda a vida e apresenta as dificuldades decorrentes da doença.
É importante lembrar que, quando se fala
hiperatividade, estamos nos referido a dois sintomas a hiperatividade
e a impulsividade.
Basicamente na criança, a hiperatividade está
ligada à motricidade, aos movimentos. É a criança agitada, que não para quieta
um segundo se quer, com o bicho carpinteiro, como dizem as pessoas mais velha.
Já a impulsividade se caracteriza pelo agir sem pensar. Crianças hiperativas se
machucam mais, sofrem mais acidentes, porque são intempestivas. Não têm
paciência nenhuma, interrompem quem está falando, intrometem-se na conversa
alheia. Esse é um sintoma que se manifesta também nos adolescentes e adultos.
A síndrome tem esses dois sintomas básicos.
Pode predominar um deles, mas em boa parte dos casos tanto o déficit de atenção
quanto a hiperatividade estão presentes.
Essa é uma situação bastante comum. Há
pessoas com déficit de atenção e hiperatividade que passam a vida toda sem
terem sido diagnosticadas. Dá para imaginar quantos
obstáculos precisaram vencer para chegar à universidade.
Na verdade, as queixas dos adultos são as mesmas
das crianças: distração, dificuldade
para concentrar-se, baixo rendimento no trabalho, impulsividade. Agem sem
pensar e depois se arrependem do que fizeram.
Os primeiros passos para o diagnóstico nessa faixa
de idade é tirar uma história, tentar obter o máximo
possível de dados sobre a infância da pessoa. É importante saber se, na escola,
a professora reclamava de sua indisciplina, se era desorganizada, apresentava
lições mal feitas, tinha os cadernos soltos, sujos, rasgados, bagunçados e o
material em desordem.
Nem sempre é fácil conseguir tais informações. Às
vezes, a própria pessoa não tem lembrança
clara de como eram as coisas. Uma saída é recorrer a informantes que lhe sejam
próximos. Se os pais estão vivos, podem ser fonte importante de consulta.
Para o diagnóstico, levam-se em conta também as
queixas atuais: o trabalho que não rende, a dificuldade para concentrar-se na
leitura de um texto mais longo ou realizar as tarefas do dia a dia, o incômodo
por ficar sentada numa reunião mais prolongada ou monótona, a dificuldade para
assistir a uma aula na faculdade ou a um curso que exija concentração e
permanência numa posição constante. Tudo isso somado ao fato de que se esquece
dos compromissos e de pagar as contas. Delinear esse conjunto de dados
possibilita reconhecer um quadro de déficit de
atenção e hiperatividade no adulto.
Muitas vezes, as pessoas não reconhecem suas
falhas de atenção como uma doença passível de tratamento. Elas as incorporam
como características de personalidade, como seu jeito de ser. Admitir que
possam ser sintomas de uma doença é o primeiro passo para buscar ajuda e
tratamento e contornar o problema.
Além disso, é fundamental criar estratégias para
compensar a desorganização natural e a falta de atenção dessas pessoas. Quanto
mais rotineiras e sistemáticas forem, melhor será seu desempenho nas diferentes
áreas.
De modo geral, os adultos com déficit de atenção e
hiperatividade já desenvolveram algumas técnicas para lidar com as próprias
dificuldades. Como sabem que são distraídos, anotam com cuidado os compromissos
na agenda, criam hábitos como deixar os objetos sempre no mesmo lugar e
estabelecem determinadas rotinas na vida.
Em relação às crianças, desenvolver essas atitudes
comportamentais irá ajudá-las a organizar-se melhor. Outra dica importante é reconhecer os danos à autoestima que a doença
provocou e procurar uma abordagem psicologica.
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