segunda-feira, 18 de agosto de 2014
Essa expressão é comum ouvirmos das mães
que procuram um atendimento psicopedagógico, além do filho não conseguir
aprender ainda é mordido por um coleguinha quase todos os dias na sala de aula. Até
parece que na sala de aula tem um vamporo. É muito comum que nas escolas de
educação infantil, mais especificamente nas turmas de maternal, de crianças com
aproximadamente dois anos de idade; aconteçam as mordidas. Nessa idade a
criança encontra-se na fase oral, do desenvolvimento da personalidade.
A criança tem o seu
primeiro contato com o mundo através da boca, pelo seio materno, que
lhe proporciona o prazer de saciar sua fome. Em razão dessa relação de prazer,
à medida que cresce leva tudo que pega leva à boca, até mesmos as mãos e os pés. Aos poucos vai tentando
saborear outros objetos e até mesmo as pessoas, na tentativa de
conhecer e descobrir melhor o mundo.
A fase oral D’Andrea dividida em duas
etapas: a de sucção e a de mordida. Na fase da mordida há uma tendência a
destruir, morder, triturar o objeto antes de incorporá-lo. Essa fase
é dividida em duas características principais, sendo oral receptiva, quando o
sujeito não passa por privações, tornando-se uma pessoa muito generosa e oral
agressiva que aparece uma tendência a odiar e destruir, a ter ciúmes da atenção
que outros recebem a nunca estar satisfeito com o que tem e a desejar que os
outros não tenham algumas coisas, mesmo que não as queira para si. É como se a
pessoa quisesse se vingar das frustrações que o período de amamentação lhe
causou.
A criança que morde na verdade está
procurando uma forma prazerosa de se expressar com o mundo, de se
descobrir dentro dele, pois nesta fase a sua libido está centrada na boca, na
porção superior do trato digestivo.
Através desse contato, aos poucos
vai percebendo várias diferenças como doce e salgado, duro e mole. E na escola,
ao morder um amigo, descobre novas sensações de prazer, como em ver o susto,
a reação, o choro do outro. A partir dessa sensação agradável, volta a
fazer repetidamente.
As mordidas acontecem em situações de
disputa por brinquedos ou quando entra uma criança nova no grupo, causando
emoções como insegurança, medo da perda ou ciúmes do novato, já que a educadora
está com a atenção mais voltada para o mesmo. Como não consegue administrar
seus sentimentos, manifesta o incômodo através da mordida.
Os pais devem ficar atentos à organização
do espaço escolar, se neste existem materiais e brinquedos adequados à faixa
etária das crianças e se estão em quantidades suficientes para os mesmos. A
falta desses materiais, bem como a falta de planejamento e organização
de atividades, deixam as crianças ociosas por longos períodos, e
podem ser a causa das mordidas constantes nos colegas.
Um grande problema que temos
presenciado comumente entre as famílias, são os pais brincando com os
filhos usando a boca, dando pequenas mordidas nos mesmos, fazendo barulho,
servindo como estimulo a mordida. Essas atitudes não são erradas, mas podem
confundir as crianças, que reportam para outras crianças as mesmas
brincadeiras, porém, podendo machucá-las, já que ainda não possuem domínio da
força da mandíbula. As famílias devem se conscientizar que essas
brincadeiras, apesar de trazerem sentimentos positivos, podem causar atitudes de
agressividade na criança, que ainda não controla seus impulsos e não sabe
distinguir o certo e o errado.
A mordida na escola é uma situação
constrangedora para todos os envolvidos. Os pais da criança mordedora sentem-se
muito mal, ficam envergonhados, os pais da criança agredida ficam chateados com
o machucado do filho e sentem-se culpados por deixarem a criança na escola. Já
a escola, por sua vez, tem a difícil tarefa de mediar os conflitos entre as
crianças e seus familiares, a fim de amenizar os sentimentos negativos da
situação.
Devem criar situações para estabelecer
os limites, as normas dentro da mesma, mostrando para os alunos que devem
respeitar os amigos, tratá-los bem, com carinho e mostrar que a criança
machucada fica triste, que chora por ter sentido dor.
Aos poucos, as crianças vão apreendendo
esses conceitos e descobrindo outras formas de sentir prazer. O importante é que
esses conflitos sejam resolvidos da melhor maneira possível, sem que aja perca
para nenhuma das crianças e que a criança que mordeu não é vampira e muito
menos uma criança má.
Pedagoga, Especialista em Psicopedagoga Clínica e Institucional. Autora de projeto de leitura "Brincando de Poesia", "Eu reforço e você se esforça", "Brincando eu também aprendo". Desenvolve trabalho voluntários no "Projeto Justiça Itinerante", na AMH,atende na Clinica Fisiocenter, presta assessoria Pedagogica e Psicopedagogica para Prefeituras, empresas,escolas e clinicas.Planeja com gestores e educadores, seleção de pessoas.
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