Como diferenciar problemas da
linguagem e da fala?
É importante distinguir os problemas da linguagem, daqueles que
dizem respeito à fala, isto é, os aspectos mecânicos da produção das
palavras, como o ritmo do discurso ou a articulação das palavras. Na gaguez
existe um comprometimento do ritmo do discurso, podendo estar presente em
crianças com 3, 4 anos de idade. As alterações da articulação das palavras,
como omissão ou troca de sons, prejudicam a inteligibilidade. Muitas crianças
apresentam erros articulatórios, porém, por volta dos 5, 6 anos eles desaparecem.
As alterações da fala e da linguagem são as perturbações do
desenvolvimento mais frequentes nas crianças em idade pré-escolar. O atraso ou
perturbação da linguagem atingem cerca de 5 a 10% das crianças nessa faixa
etária. Utiliza-se o termo Atraso de Linguagem quando a aquisição se faz de
forma típica, embora mais tarde do que a idade habitual para cada etapa. A
expressão Perturbação Específica do Desenvolvimento da Linguagem (PEDL) fica
reservada para a situação em que este se processa de modo atípico e não à
devida às situações acima referidas, uma vez que estão assegurados os
pré-requisitos necessários. Existem ainda situações mais raras, em que há uma
regressão da linguagem e a criança perde capacidades que já tinha previamente
adquirido.
A
linguagem é um instrumento utilizado para a comunicação que consiste num
conjunto de símbolos, combinados de forma sistemática e orientado para
armazenar e trocar informações. O desenvolvimento desta complexa função, ocorre
espontaneamente e por etapas, existindo diferenças nas velocidades e estilos de
aquisição, bem como nas diferentes culturas e línguas.
O recém
nascido apresenta já capacidade para descriminar sequências de sons, distinguir
a voz da mãe e o idioma materno de outro idioma. Ao longo do 1º ano de vida a
criança começa a emitir vocalizações, diferentes do grito ou choro,
posteriormente diz sílabas simples ou repetidas e, mais tarde, palavras já
perceptíveis e com significado. Surge, depois, a combinação de duas ou mais
palavras formando frases. Durante o processo de desenvolvimento, em regra, a
compreensão precede a expressão, isto é, uma criança compreende uma palavra
alguns meses antes de dizê-la. Durante a infância ocorre um aperfeiçoamento da
articulação das palavras e da estrutura gramatical das frases, e ao longo de
toda a vida um alargamento do vocabulário.
Para o desenvolvimento da linguagem é necessário que a criança
tenha um nível cognitivo adequado, a audição mantida, o aparelho donatário
(estruturas envolvidas na fala) íntegro, seja convenientemente estimulada e
tenha vontade de comunicar. Deste modo é de esperar que uma criança com um
atraso de desenvolvimento, surda, com paralisia cerebral, autismo ou um
ambiente pouco estimulante possa apresentar uma alteração da linguagem.
Entre as causas mais frequentes de Atraso da Linguagem
encontram-se o défice de audição, o atraso de desenvolvimento, a prematuridade,
o autismo e a falta de estimulação. Em outras circunstâncias pode ocorrer o chamado mutismo seletivo,
em que a criança só fala em determinados ambientes, por exemplo não fala na
escola e comunica normalmente em casa. Por outro lado, as PEDLs são
essencialmente devidas a factores genéticos, tal como foi demonstrado em
estudos efectuados em gêmeos. Perante o mesmo ambiente familiar, nos gêmeos
verdadeiros se um deles tem PEDL, a probabilidade de o irmão também ter é
de 100%, enquanto que nos gêmeos falsos é de 50%. Estas perturbações não
resultam de lesões visíveis na estrutura do cérebro, mas no modo de
funcionamento dos circuitos cerebrais que envolvem as áreas da linguagem. A
regressão da linguagem pode ser causada por uma doença metabólica ou um tumor
no Sistema Nervoso Central, um síndrome epiléptico específico denominado
Landau-Kleffner ou determinados quadros de autismo.
Quando esses sinais surgirem
é hora de procurar Neuropediatra:
Ø
Não falar consoante / vogal aos 8 meses e não apontar aos 12 meses
não dizer nenhuma palavra aos 16 meses, não fazer expressões de 2 palavras aos
2 anos e não construir frases aos 3 anos linguagem incompreensível para os
pais aos 2 anos e para estranhos aos 3 anos não contar uma história aos 3 anos
defeitos na articulação das palavras aos 6 anos suspeita de regressão da
linguagem em qualquer idade.
Quando se coloca a hipótese de perturbação da linguagem deve ser
realizada uma avaliação da audição, nível cognitivo, desenvolvimento da
linguagem e motor, integração social e comunicação. Raramente é necessário efetuar
exames de diagnóstico como TAC, Ressonância magnética ou EEG, exceto se há
historial de epilepsia, regressão da linguagem ou alterações no exame
neurológico. Perante uma criança com menos de 3 anos, que tenha um atraso na
linguagem, com bom desenvolvimento psicomotor, uma boa compreensão verbal, boas
capacidades comunicativas e uma história familiar de aquisição tardia, pode ser
mantida uma atitude de mera vigilância sem necessidade de intervenção imediata.
O prognóstico das PEDLs é muito variável. Quando o diagnóstico é
feito na idade pré-escolar, cerca de 37% das crianças recuperam antes dos 6
anos. Porém, estas crianças consideradas recuperadas apresentam alterações em
testes verbais quando são avaliadas aos 15 anos. Os problemas da linguagem
associam-se por vezes a dificuldades de aprendizagem, nomeadamente da leitura e
escrita, perturbações emocionais e do comportamento e, mais tarde, dificuldades
de inserção social e profissional.
Não existem medicamentos para estas situações e a intervenção deve
ser multidisciplinar e adaptada a cada criança. Consiste na reeducação e treino
em terapia da fala e num enquadramento escolar adequado. Sempre que necessário
deve-se recorrer a técnicas de comunicação total e linguagem gestual, na medida
em que facilitam a linguagem oral e não prejudicam o seu desenvolvimento. É
fundamental prevenir e tratar os problemas emocionais e o isolamento associados
a este tipo de perturbações.
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