sábado, 19 de abril de 2014


Os desenhos infantis falam?



Ao visitarmos Sete Cidades em Piracuruca, ou a Serra da Capivara em São Raimundo Nonato, no Piauí, nos deparamos com vários desenhos nas paredes feitos por civilizações passadas, vemos que eles transmitem mensagem, nos dá uma ideia de como era a vida de nossos antepassados.
 Hoje, muita coisa mudou. Comunicamos-nos por telefone, internet, o que não nos faltam são meios rápidos para nos comunicarmos.
Para a psicopedagogia, no entanto, nem sempre esses meio são viáveis, muitas vezes eles atrapalham. É preciso se desligar deles para que possamos ficar atento ao que a criança está falando através dos desenhos. Nesta atividade um aspecto importante em que a criança se expressa através do desenho as suas emoções, revelando segredos que se passam no seu mundo interior e que ainda não é capaz de comunicar pela linguagem oral.
Quando desenha, a criança conta histórias e às vezes representa, expressando sentimentos que até então estavam escondido; medos, frustrações. Desenhar para a criança vai além de uma atividade que utiliza papel, cartolina, lousa, muro, chão, madeira, pano e alguns instrumentos como lápis, giz, pincel, canetinha e até mesmo os dedinhos.
O desenho é uma maneira de a criança raciocinar, pois enquanto desenha está organizando em seu interior as ideias de mundo e construindo também as suas próprias ideias.

Métodos para estudo do desenho infantil

Utilizam-se para estudar o desenho infantil dois métodos:

Ø     Método estatístico ou estudo transversal: é o estudo feito com um grande número de crianças de diferentes idades. Por esse método ficam-se conhecendo diversos aspectos do desenho infantil, como temas preferidos, características de várias idades e de cada sexo, ou as características que acontecem em algumas idades e não em outras;

Ø     Método biográfico ou estudo longitudinal: este método consiste em colecionar muitos desenhos de uma mesma criança, desde as garatujas (rabiscos) até aproximadamente os 12 anos. Somam-se com os desenhos, as condições em que a criança se encontrava ao realizá-los, as cores por ela escolhidas, o espaço por ela utilizado no papel, às expressões fisionômicas enquanto desenha sua tonicidade e as figuras desenhadas e a importância e significado que a criança atribui a elas.

Desenvolvimento completo do desenho infantil.

Através do método estatístico, chegou-se a conclusão que as crianças menores de seis anos preferem desenhar figura humana, já a diferenciação quanto ao sexo é notada dos quatro aos oito anos.
As meninas preferem representar crianças, pois suas figuras trazem fitas no cabelo, carregam bolsas e geralmente após os seis anos se voltam às coisas domésticas, como mesa, toalhinhas, bandejas.
Já os meninos preferem desenhar adultos, pois notamos que suas figuras possuem chapéu, bengala e usam calças compridas. E ainda após os seis anos são mais voltados a objetos mecânicos como veículos e revólver. Após os seis anos, tanto as meninas, quanto os meninos, se voltam a objetos que fazem parte do seu cotidiano e da sua vida social.
As crianças, de maneira em geral, ao desenhar não têm noção de proporção, desenhando a cabeça maior que o corpo ou vice-versa. Com o desenvolvimento mental, a criança começa a ter noção de proporção revelando um maior acerto na dimensão de cada elemento da figura humana. Outra particularidade é a falta de orientação das partes do corpo, alguns elementos de frente, outros de perfil.
Sabemos, no entanto, que o desenho infantil evolui, Isto é, características próprias de uma idade não são as que aparecem em outras.

Características do desenho da figura humana

A criança, na maioria das vezes, esquece-se de partes do corpo humano, como tronco, orelha, porém prende-se a acessórios, como bolsas, cintos, brincos. Uma criança de mais ou menos quatro anos não coloca nas suas figuras uma base, sempre as desenha flutuando. A partir do desenvolvimento mental, a criança adquire essa noção, passando um traço por baixo do desenho. Porém, o adulto deve ficar atento a este detalhe, pois se uma criança com idade mais avançada continua a fazer seus desenhos sem colocar uma base, talvez esteja sentindo-se insegura e sem apoio.
Outra característica do desenho infantil é a rigidez, as crianças menores sempre desenham seus bonecos com braços, dedos e cabelos esticados e com o desenvolvimento mental, espera-se que os desenhos demonstrem mobilidade.
E por fim, a transparência, muitas vezes a figura humana aparece vestida, mas deixando transparecer o corpo através da roupa. As crianças, de uma maneira geral apresentam com mais frequência um traço contínuo, com linhas firmes, grossas e pesadas.

Outras características importantes
 CASA - o adulto deve estar atento quanto às portas e janelas da casa desenhadas pela criança, visto que estas representam o contato com o meio ambiente, ou seja, se uma criança desenha portas e janelas fechadas, leva-nos a pensar que talvez a interação com o ambiente e com as pessoas está difícil para ela.
FAMÍLIA - a criança que desenha sua figura isolada ou afastada dos familiares pode estar querendo mostrar a falta de comunicação entre os membros.
Percebemos também que quando a criança representa a sua figura por último, pode ser que esteja com a sensação de não receber a devida atenção na família. Daí a necessidade do adulto estar atento em qual ordem à criança faz seus desenhos. Quanto ao tamanho das figuras, o que vemos é que as pessoas da família com quem a criança tem maior proximidade afetiva são figuras desenhadas de forma maior, mais colorida e expressiva.
Verificamos que na maioria das vezes ao desenhar, o espaço é regido pelo emocional, ou seja, se a criança está vivenciando uma relação conflituosa com o pai, coloca-o no seu desenho no canto da folha, bem distante da família, mesmo não sendo sua real posição física.
ÁRVORE - quando a criança desenha uma árvore, devemos estar atentos quanto à copa desta árvore, pois representa a área da criatividade.
Outro aspecto é quanto aos frutos, pois estes representam o desejo de realizar coisas.
Em relação à linha do solo, que é à base da árvore, esta nos fornece dados sobre a necessidade de apoio.

Importância das cores

A simbologia das cores varia de cultura para cultura, ocorrendo uma diversidade de interpretações. No entanto quanto mais bizarro for o emprego da cor, maior a probabilidade de ter um significado representativo.
Amarelo  - é a cor da luz, do ouro e do sol. É a cor preferida por pessoas alegres, desinibidas, flexíveis e espontâneas. Quando utilizada pela criança com muita ênfase sugere um comportamento mais dependente e emocional.
Azul- é a cor do céu, do espírito. A contemplação do azul determina leveza e contentamento. É a cor preferida por pessoas calmas, seguras e equilibradas.
Laranja- é a cor preferida por pessoas confiantes, perseverantes, independentes e extrovertidas. Quando utilizado pelas crianças sugere desejo de conseguir algo e se valorizar.
Marrom- é a cor preferida de pessoas passivas, indiferentes, inseguras e observadoras de regras. Quando usado com muita ênfase por crianças, sugere inibição ou repressão.
Preto- é a ausência de todas as cores, transmite a sensação de renúncia, entrega, abandono e introspecção. Em crianças reflete repressão da vida emocional, ansiedade e luto.
Verde- é a cor da natureza, do crescimento, da reprodução, é chamada a cor do equilíbrio. Quando usada com muita ênfase pelas crianças sugere dificuldade de expressão das emoções.
Vermelho- universalmente considerado como símbolo fundamental do princípio da vida, é a cor do sangue. É uma cor ativa e estimulante. O interesse pelo vermelho decresce à medida que a criança supera a fase impulsiva e ingressa na fase da razão.
Violeta ou roxo- é uma cor resultante da mistura do vermelho com o azul e nas crianças reflete um temperamento mais sombrio ou tristeza.
Faz-se necessário que o adulto esteja cada vez mais atento e sensível à construção do desenho infantil, pois como pudemos perceber, este é um dos instrumentos utilizados pela criança para expressar suas emoções e conflitos. Através do seu desenho, a criança nos convida gentilmente a adentrar o seu mundo interior.
Quanto ao educador, no espaço rico da sala de aula, através da atividade de desenhar este terá oportunidade de conhecer mais intimamente o seu aluno e, dentro do que compete a sua função, acolher as emoções vivenciadas e junto a este aluno desenvolver uma relação de cumplicidade, amizade e afetividade.

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