sexta-feira, 18 de outubro de 2013


     DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NA LEITURA E NA ESCRITA: 
                                      O DESAFIO DESTE SÉCULO.


Dificuldade de aprendizagem são todas as dificuldades encontradas no âmbito escolar e relacionadas com a aprendizagem, esse artigo abordará principalmente as dificuldades relacionadas à área da leitura e da escrita.  Procuramos compreender como ocorre a aprendizagem, e a partir daí então, procuramos identificar os aspectos cognitivos, emocionais e sociais que influenciam o processo de ensino/aprendizagem, especificamente da leitura e da escrita.

       Ao adentrar ao espaço escolar a criança se depara com situações desafiadoras e muitas vezes conflitantes. O ser humano desde o nascimento aprende e se desenvolve, segundo Vygotsky. Diferentemente da aprendizagem proporcionada pela família, primeiro ambiente de aprendizagem, ao meio escolar precisa planejar situações de aprendizagem, e essas requerem do educador pensar nas diferenças, nas individualidades. Nesse sentido convém lembrar que o processo de aprender é singular, ou seja, cada pessoa tem uma forma de reconstruir o seu conhecimento.



    Mas o grande desafio está em descobrir como cada sujeito aprende e principalmente dentro de um processo sócio histórico e como algumas crianças têm mais dificuldades para aprender do que outras. Dessa forma surgem então as seguintes indagações por parte de educadores e familiares:
Ø     Como ocorre a aprendizagem dos alunos que tem dificuldade de aprendizagem (DA)?
Ø      Qual a área de aprendizagem que as crianças encontram mais dificuldade na leitura ou escrita?
Ø     Como é o desenvolvimento psicossocial, emocional, cognitivo e físico?
Ø     Qual papel a escola assume frente ao desafio de ensinar?


 Sabe-se que as dificuldades de aprendizagem é um assunto bastante discutido e muito complexo, no entanto, segundo Gómez e Téran (2009), a aprendizagem depende de cada pessoa, é algo interno, mas acaba se constituindo a partir da interação entre os sujeitos, e ocorre ao longo da vida. No cérebro das pessoas ocorrem períodos que são fundamentais para desenvolver alguns estímulos, períodos estes sensíveis à estimulação ambiental, necessário para que ocorram mudanças. Esses períodos são chamados de janela de oportunidades (Gómez e Téran, 2009), onde a criança com três anos de idade assume o seu controle emocional, por volta de quatro anos começa a desenvolver o raciocínio lógico e matemático, aos seis anos desenvolve o vocabulário e as habilidades motoras, e finalmente com dez anos aprimora a linguagem e desperta o interesse pela música.
     Vale ressaltar que, para o alcance da aprendizagem, é importante respeitar que cada indivíduo aprende de uma maneira singular, dependendo da estrutura cerebral e afetiva de cada um. 
      Gómez e Téran ainda afirmam  (2009), que o homem já nasce inserido em uma sociedade organizada, com normas e uma história. A relação entre as pessoas permite que ocorram algumas manifestações simbólicas como a linguagem e o pensamento. Por meio desta relação entre o sujeito e o mundo, a aprendizagem continua ocorrendo, fazendo disso uma atividade funcional, com sentido e organização e para levar em consideração as bases neurofuncionais e os processos psicológicos é necessário ponderar os processos neuropsicológicos. 

      Entende-se como neuropsicologia o estudo dos distúrbios das funções superiores produzidos por alterações cerebrais, investigando, especificamente, os distúrbios dos comportamentos adquiridos, pelos quais cada homem mantém relações adaptadas com o meio. Somente há pouco mais de cem anos é que se passou a conhecer o funcionamento ao nível do córtex cerebral, por meio do estudo das lesões espontâneas localizadas e ressecções parciais do cérebro, que permitiram demonstrar que as diversas partes hemisféricas não possuem a mesma função e que existe uma organização cerebral semelhante em todos os indivíduos.

       Os processos neuropsicológicos, que envolvem o cérebro e o comportamento, e intervêm na aprendizagem são definidos como:
·  Processamento perceptivo ou gnosias;
·   Praxias ou processamento psicomotor;
·   Atenção;
·   Memória;
·  Percepção;
·   Pensamento e linguagem.
Vejamos: 
       As gnosias ou processamento perceptivo fazem referência ao reconhecimento do mundo, por meio da sensibilidade.
       A organização cognitiva cerebral está subordinada às capacidades gnósticas. Quando um estímulo visual, auditivo, olfativo ou tátil é captado por um receptor específico, localizado no órgão sensorial correspondente, é interpretado pelo sistema nervoso. (...) No córtex cerebral é iniciado o processo de reconhecimento configuracional. Esta é a fase perceptiva denominada processo gnósico ou gnosia.

        Dependendo da ação que valorizamos podemos utilizar diferentes formas de gnosias, por exemplo, a visual, auditiva ou tátil.
       As Apraxias ou processamento psicomotor é a execução de atos voluntários complexos e organizados, que aprendemos durante toda a vida. Tais movimentos vão se tornando mais elaborados e requintados a partir da repetição deles, como:

ü     Andar;
ü      Comer;
ü     Escrever. 
      
       As apraxias são as habilidades dirigidas à execução gestual, a praxia melocinética ou a ideomotora, praxias especificas com o buço facial. As funções executivas estão envolvidas no controle e na regulação de processos cognitivos mais simples.

       Essas aquisições motoras desenvolvem um exercício do sistema nervoso nomeado de psicomotricidade, esse processo abrange as interações cognitivas, emocionais, simbólicas e sensório-motoras, fazendo com que o indivíduo desenvolva sua personalidade de maneira íntegra.

       A atenção é método mais eficaz para a obtenção do conhecimento. Para que ocorra o processo de atenção é necessário a disposição neurológica do cérebro para receber os estímulos. Este procedimento tem seu desenvolvimento progressivo e complexo envolvendo o psicológico, neurológico e cognitivo.
Nessa perspectiva podemos até afirmar que a atenção é todo processo associado à seleção e à organização da informação, isto é, a uma atividade que processe os componentes básicos necessários para a concentração e a ação. Temos a atenção visual e a espacial. A percepção de faces é uma atividade de relevância no cotidiano do ser humano.

       Considera-se que a atenção é a maneira que admite sustentar a finalidade de aprender e lembrar, sendo um elemento imprescindível para a memória. 
A memória abrange a estruturação psíquica, neurológica e cognitiva. É através da memória que conseguimos recordar dos fatos passados, fator primordial para estruturar a aprendizagem através do registro das vivências. Todos os indivíduos possuem memória a curto ou longo prazo, sendo dividida em memória sensorial e memória declarativa.

     Quanto à memória sensorial, ela permite o registro de cada experiência sensorial. A existência dessa memória possibilita o reconhecimento configuracional, que nos permite vivência e experiência como nossa, como algo familiar. Já a memória declarativa é a habilidade de armazenar e recordar ou reconhecer conscientemente fatos e acontecimentos; a lembrança pode ser declarada, isto é, trazida à mente verbalmente como uma proposição, ou não verbalmente como uma imagem. Portanto, se houvesse a ausência da memória não seria possível fixar nem conservar as informações vivenciadas e experimentadas pelo ser humano.

       É importante destacar que a criança deve ser estimulada desde cedo a desenvolver a linguagem, pois isso a ajudará a fazer, a compreender e a descobrir fatos novos. Existem casos em que as crianças não demonstram interesse para falar, pedir o que querem e, quando querem alguma coisa apontam para o objeto. Essa ação faz com que a criança tarde o seu desenvolvimento linguístico e a maturação cerebral.



      Destacamos que o cérebro humano é composto por dois hemisférios, que são responsáveis pela organização da aprendizagem, onde o hemisfério direito responde às questões intuitivas, e o esquerdo as lógicas. O hemisfério esquerdo é responsável pelas funções de:
·                                Análise;
·                               Organização;
·                               Seriação;
·                               Atenção auditiva;
·                              Fluência verbal;
·                              Regulação dos comportamentos pela fala;
·                              Praxias, raciocínio verbal;
·                              Vocabulário, cálculo, leitura e escrita.

      É o hemisfério dominante da linguagem e das funções psicolinguísticas.
O hemisfério direito é responsável pelas funções de síntese:
·                Organização;
·                 Processo emocional;
·                Atenção visual;
·                 Memória visual de objetos e figuras.

 O hemisfério direito processa os conteúdos não-verbais, como as experiências, as atividades de vida diária, a imagem as orientações espaço-temporais e as atividades interpessoais. Muitas atividades exercidas precisam que os dois hemisférios atuem conjuntamente se complementando ou dependendo da ação realizada, um deles assume o controle e o outro continua a participar. Outro fator importante  é saber respeitar como cada aluno consegue aprender, sendo que cada indivíduo tem um modo diferente de assimilar o conhecimento. Alguns aprendem com mais facilidade através da observação ou vendo a expressão facial da pessoa que está transmitindo a mensagem, ou seja, da forma visual, outros são ouvindo as mensagens que estão sendo repassadas que conseguem compreender o que está sendo ensinado possuindo mais facilidade para se expressar oralmente, sendo este o estilo auditivo, temos ainda, os alunos que têm mais facilidade em aprender se conseguirem se envolver com o elemento de estudo através do fazer, ou por meio de atividades físicas ou manipulação de objetos, sendo que este é o modo físico de aprendizagem. 



      Ao se referir a um processo de ensino e aprendizagem precisamos considerar todas essas questões abordadas, principalmente se o objetivo é compreender as dificuldades de aprendizagem, do comportamento e dos relacionamentos dos alunos, que além de ser uma questão cognitiva, muitas vezes está relacionado com as questões institucionais relacionadas às instituições de ensino público. 
Nesse contexto remeter-se à escolarização do aluno significa considerar todo o processo de ensino-aprendizagem e a multiplicidade de elementos que este envolve, como:
Ø     O sistema político e econômico vigente;
Ø      A escola;
Ø      Sua política e proposta pedagógica;
Ø      Seus professores;
Ø      Sua formação, crenças e práticas pedagógicas;
Ø      Os alunos com suas capacidades e dificuldades.

       As dificuldades de aprendizagem, principalmente da linguagem, muitas vezes, estão relacionados com a falta de oportunidades de aprender, finalizamos dizendo que a escrita é relativa à cultura que pertencemos e aprendida pelo ensino, necessitando assim que o aluno além de desenvolver suas habilidades perceptuais e motoras, deva fazer parte de uma sociedade letrada.


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